Não me parece tarefa fácil descrever em poucas palavras o que terá sido percorrer os caminhos de Santiago. Quem ficou como espetador neste nosso itinerário terá muitos comentários a fazer e rótulos a atribuir (desde “heróis” por termos ‘sobrevivido’ a “loucos” por o fazermos em dezembro, (mesmo que as condições climatéricas tenham tido compaixão de nós) enquanto .tentam adivinhar o que terá sido para nós esta semana e por mais que tentemos explicar a verdadeira semântica, só quem esteve ao nosso lado, de mão dada connosco, nesta semana, detém o autêntico significado do que foram, efetivamente, os caminhos de Santiago.
Diria então, utilizando uma expressão do Pe. Artur, que me soa bastante relevante, os caminhos são uma “Lavagem da Alma”; são anestesia do ruído, quebram vícios e rotinas e quando regressamos tentados a este ciclo, todas as reflexões e temas abordados nos caminhos ficam em nós, cravados na essência e por sinal não estão estagnados. Mudámos de hábitos e somos pessoas novas, abandonando as velhas rotinas, mas não se trata de nenhum apelo tresloucado à política de “ano novo, vida nova” mesmo que a época coincida.




Não sabia ao certo por que motivo ia fazer os caminhos nem acreditava que teria uma revelação chocante ou uma transformação como borboleta a sair do seu casulo. Sinceramente, esta ideia de voltar após uma semana a dar uns passeios algo sofridos no meio de paisagens bonitas, do silêncio e do nevoeiro e regressar como hippie renovado não me caiu muito bem, mas acho que começo a perceber o que me queriam dizer.
Tal como ir à Zara e não saber que precisávamos de daquelas botas prateadas até as vermos, para mim os caminhos funcionaram como esta analogia. Precisava de os realizar e nem sabia.
Marta Estrela Pinheiro