A nossa comunidade é composta por diversos grupos e movimentos, uns que surgem pela urgência dos tempos como é o caso da equipa de acolhimento ou dos voluntários de rua, outros que se mantêm indeléveis e ainda outros que vão ficando debilitados, decorrente da passagem do tempo. Somos muitos, organismos e estruturas, diferentes e complementares e cada grupo tem a sua identidade, mas nenhum faz a comunidade sozinho. A solução também não passa por cada um exercer a sua missão de forma estanque e à espera que, no fim, o Espírito Santo faça o trabalho de criar a essencial simbiose e sinergia. Precisamos da espiritualidade do diálogo que abre as pessoas e os grupos a uma pastoral de conjunto, onde todos precisam de todos, sem ninguém perder identidade, mas acrescentando o que cada um tem de melhor. O Presbítero terá a missão de ser um homem da comunhão comunitária, cuidando de fortalecer os laços entre todos e de dispor a comunidade para dialogar com o mundo, no nosso caso com a cidade. Não podemos partir do pressuposto do dualismo intra e extra eclesia, os de dentro e os de fora da comunidade, muito menos os do nosso grupo e todos os outros. Todas as realidades são lugares para o agir de cada cristão e onde um de nós estiver, aí está toda a comunidade. Nunca poderemos esquecer esta realidade: uma crítica é sempre individual e coletiva; uma falta é sempre pessoal e comunitária.
A liturgia será a expressão maior e mais bela da comunidade como realidade complementar, como lugar de sujeitos celebrantes que se unem para celebrar a mesma vida concedida por Cristo Jesus. Pelo batismo, todos são sujeitos ativos na Igreja e não meros destinatários da ação evangelizadora de um único sujeito que seria o clero. Os sujeitos eclesiais da nossa comunidade são o presbítero, os diáconos permanentes, os leigos, as famílias, as crianças da catequese, os jovens, os idosos, os doentes… precisamos de vencer a tentação de fazer dos outros sujeitos passivos para passarmos para a lógica de todos sermos construtores da mesma comunidade de vida e de fé. Assim sendo, precisamos de vencer um certo assistencialismo, sobretudo com os nossos pobres. Isto exige que transformemos e centremos a ação sócio-caritativa em capacitação e promoção das pessoas e não só em distribuição de bens. O assistencialismo é transversal a muitas das nossas atividades e ministérios. Uns são os que dão e outros os que recebem, uns são os que fazem e outros os que assistem, uns são os que celebram e outros os que participam. Nada disto nos serve. Precisamos de nos ajudar a fazer de todos cristãos iniciados na fé, ativos na caridade e que se unem para celebrar a vida que o Senhor nos concede com a Sua morte e ressurreição.
Pe. Artur Pinto