A torre da igreja matriz, um farol de Luz e Bênção…
Qualquer caminhada começa sempre com um primeiro passo, mas sem a perseverança dos seguintes nunca poderemos alcançar o fim do nosso propósito.
A Semana Santa concentra a exata proporção da vida de cada um de nós. Foi emocionante a imagem do Papa em solidão a celebrar a Semana Santa, momento a momento, envolvido pelo silêncio visual dos espaços vazios, sem gente… lembrava Jesus… também Ele só, perante uns e outros. A vida nos seus altos e baixos, nos seus momentos de tempestade e de bonança, quando parecemos perdidos no meio dos outros, ou os outros se perderam de nós. É tudo Jesus na Sua caminhada no Mundo dos Homens. A receção calorosa no Domingo de Ramos não fazia prever em tão pouco tempo um desfecho tão trágico para a Sua humanidade. Pensar que muitos dos que acorreram a saudá-lo à Sua chegada a Jerusalém, uns dias depois, também o condenaram, ou nada fizeram para o defender. Onde estava a perseverança, após o primeiro passo?
A Pandemia que o mundo está a viver apresenta-se-nos como uma experiência semelhante à de uma Via Sacra, com a exceção de ninguém estar sozinho como Jesus esteve na sua humanidade, todos iguais perante um vírus, todavia nem todos perante as mesmas consequências económicas e sociais. O grande desafio estará na capacidade de nos ajudarmos, no sentido de protegermos os que mais sofrem, os mais frágeis, esbatendo as dificuldades das diferenças, porque as partilharemos. Surpresa e alegria no gesto do Pe. Artur em fazer da torre da igreja matriz um farol de Luz e Bênção para todos os pontos da cidade, para todos, sobretudo para os que vêem tudo mais tristonho e sem forças para resistir. É reconfortante o significado de uma igreja-farol para enfrentarmos um vírus que abala, mas não pode ruir a capacidade de superação dos Cristãos, que vem do exemplo de Cristo. Perseverou até ao fim da caminhada, “libertando-se das amarras da morte”, morreu para viver. Esta lição é o que todos os anos se espera de cada um de nós: sempre que iniciamos a preparação para a Páscoa, deveremos ter em vista o Homem Novo em que nos queremos tornar. Perseverarmos para encontrar o Bem, eliminando o que nos sombreia, afirmando o primeiro dia do resto da nossa vida.
O Ano Litúrgico acompanha o caráter cíclico do mundo e da existência, repetindo-se, reinventando-se. Há no universo diegético da Páscoa Cristã um momento marcante que o distingue de qualquer outra Fé ou Credo, quando Jesus supera a inexorabilidade da morte e afasta distintivamente a caminhada dos cristãos de um caráter cíclico para a linearidade da Vida Eterna. Esta reflexão acompanhou-me particularmente este ano. Jesus quebrou com a tradicional Páscoa Judaica e assumiu-se como a Nova Páscoa. Não mais a celebração do que historicamente se fez, mas a efetivação de todo o Antigo Testamento precipitado no Domingo da Ressurreição.
A cada ano, fazemo-nos necessariamente diferentes, ainda que, muitas vezes, com os mesmos receios e angústias, mas com toda a certeza perante a oportunidade de nos refazermos e evoluirmos para a edificação de um Mundo Novo, sem medo.