Quinto Domingo da Quaresma
Creio na possibilidade do outro
Crês em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor, que nasceu da Virgem Maria?
Enquanto não passas, nada sou. Nada tenho para contar. Enquanto não passas, ainda nada sei de mim. Nada sei do meu nome. Enquanto não passas, tudo por aqui é difuso. Eu não passo de mais uma morte anunciada. Quando tu passas, em mim tudo passa a ser possível. Sei que tenho uma história a fazer. Quando tu passas, em mim tudo está por dizer. Sei que tenho um nome sempre a dizer. Quando tu passas, tudo começa para mim e abre-se a vida em cada novidade. Creio na tua passagem. Acredito na tua estadia. Experimento a hospitalidade e choro contigo o cordão umbilical que se corta para que sejas tu e eu seja. Tu serás mãe e serei de todos… em todos.
Tu serás a minha possibilidade… só em ti serei, porque serás sempre aquele outro que me fazes ser, sem me abandonares na estranheza de mim ou me deixares permanentemente sem ti. Acredito que este outro que és é a minha possibilidade de ser.
Oração
Do mais fundo lanço o meu grito
Como uma ardente e vermelha labareda.
Ouve, Senhor, responde prontamente ao meu chamamento:
Só sou homem e na sombra habito.
Não me deixes morrer como um proscrito,
Pois maldito é quem morre em apuros,
Suspenso na cruz e pela espada
Do silêncio de Deus como delito.
Grito, volto a gritar. Ninguém responde.
Quanto mais grito, mais abandonado,
Mais se adensa a noite e Deus se esconde.
De quem socorrer-se! Como, quando, onde?
Não me deixes, meu Deus, de ti esquecido.
Pois a tua ausência é cruel lança no meu costado.
(Francisco Contreras)
O lugar dos dias
Domingo
“Se Cristo está em vós, o vosso corpo está morto por causa do pecado, mas o Espírito é a vossa vida por causa da justiça. E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vós.” (Rm 8,10-11)
Segunda-feira
O outro é a minha possibilidade de ser. Sem outro não há mais do que qualquer coisa.
Terça-feira
Sempre que outro passa, eu também cresço um pouco mais na responsabilidade de o amar.
Quarta-feira
É no silêncio que melhor conheço o outro. As palavras estão cheias de equívocos.
Quinta-feira
Jejuo de todas as palavras para que a Palavra me diga do amor ao outro.
Sexta-feira
Faz falta o silêncio que me é dito no amor. Só o amor nos salvará de ser totalidade e possibilitará que sejamos apenas este que somos.
Sábado
Tu, Senhor, és o amor que me faz ser em todos os outros que por mim passam, para que deles cuide, como se de Ti cuidasse.
Outras leituras
Poema
“Ao alcance das mãos” – Samuel
Filme
The Daughter, Daria Kashcheeva ou “ Os gatos não têm vertigens”, António-Pedro Vasconcelos
Música