NÃO CONHEÇO OUTROS PELA MINHA SEDE
Renuncias a Satanás, que é o autor do mal e pai da mentira?
No deserto encontro caminhos que seguem ao meu lado, mas não deixam que continue a beber a sede da areia que sou. Não quero outro caminho. Apenas o da sede. Todos os outros são fantasmas que, espectros da realidade, não me deixam com mais sede de mim. Não é beber em todas as fontes que me sacia, nem beber da necessidade de mim. Apenas naquela que me posiciona dentro de mim. Aí posso beber sem imagens nem aparências. E é bem real esta sede. Tenho sede de mim, da vida. Nas fantasias escavo por fora, deixando-me derramado pelos espaços perdidos. Num deserto sem fim.
Tenho sede e essa é bem real. Aqui não há espaços para imaginar o que não seja autêntico. Aqui não se jogo comigo mesmo, porque, o que é meu, é esta sede, que me faz criar raízes bem fundas para beber. Renuncio a estar saciado e a tudo o que dizem matar a sede. O que mais desejo é que ela viva e esteja sempre pronta a escavar, para que nunca pense que é em mim ou em qualquer outra coisa que fico saciado. O que sacia brota do silêncio de mim: quando amo sem procurar amar; quando dou sem procurar possuir; quando vivo sem procurar viver.
Oração
Ali, junto àquele poço,
Convidaste, Senhor, a minha alma ferida
Com as águas eternas, que, provadas,
Incendeiam mais a sede de água viva.
Ela, a pecadora,
Do mal das tuas ausências padecia,
E num instante descobriu o profundo,
Os claros mananciais da felicidade
Nova samaritana,
Minha alma se faz, Senhor, encontra-a
Nos teus caminhos interiores.
Ouve, não passes tão depressa!
Eis aqui o poço, o coração, a água,
Repousa a tua fadiga!.
Félix García
Domingo
“Ora a esperança não engana, porque o
amor de Deus foi derramado nos nossos
corações pelo Espírito Santo que nos foi
dado. De facto, quando ainda éramos
fracos é que Cristo morreu pelos ímpios.”
(Rm 5,5)
Segunda-feira
Ter sede é sinal de que a vida ainda deseja
ser mais vida.
Terça-feira
Não há maior tristeza do que os
esquecermos de beber um pouco mais o
desejo de viver.
Quarta-feira
O cansaço de viver diz-nos que ainda não
bebemos na sede da vida.
Quinta-feira
Jejuo de tudo, para que em tudo beba do
que me pode dar a Vida.
Sexta-feira
Sem sede expiro. Dá-me, Senhor, toda a
sede de ti, para que em ti viva sempre.
Sábado
É em Ti, Senhor, que vivo. É em Ti que
bebo a vida. É por Ti que tudo na vida
pode ser bebido.
Outras leituras
Filme
Into the Wild – Sean Penn
Música
Não Vás Embora Hoje – Pedro Abrunhosa
Tenho Sede – Gilberto Gil
Comfortably Numb – Pink Floyd
Kyrie in D minor – Mozart (John Eliot Gardiner)